Continua a série de textos interessantes sobre antiguidades.
A primeira porcelana inglesa
Ao contrário da faiança inglesa, a porcelana inglesa é muito pouco conhecida em
Portugal, e quando aparece, a mais antiga, sem marca, é muitas vezes confundida
com a porcelana chinesa de exportação, geralmente por encomenda, vulgo
"Companhia das Índias", porque muitas fábricas começaram por copiar os motivos e
as formas dessa porcelana chinesa. Era esta a porcelana que tinha servido o
mercado inglês, sobretudo aristocrático, até ao séc. XVIII, e tal como na
Holanda, Londres contou com oficinas de decoração de porcelana chinesa, sendo a
mais conhecida a de James Giles, um pintor de porcelana que mais tarde
também trabalhou para a fábrica Worcester.
Taça e pires de chá Worcester, c. 1765, a imitar porcelana chinesa azul e branca |
Prato Chelsea c. 1760 |
No entanto, a primeira fábrica de
porcelana inglesa fundada por dois franceses, em 1743, em Chelsea, destinou os
seus produtos à aristocracia, seguindo primeiro modelos de Meissen e depois de
Sévres. A porcelana de Chelsea que hoje é um nome mítico da porcelana inglesa,
caracterizou-se por uma pasta branda - ao contrário da porcelana chinesa de
pasta dura - muito branca e leitosa, usada no fabrico de figuras muito delicadas
e serviços de mesa com decorações vegetalistas, peças que hoje atingem
valores consideráveis pela sua raridade e beleza. Na primeira fase as peças eram
marcadas com um triângulo gravado, mas depois passaram a utilizar uma âncora,
primeiro relevada na pasta, depois impressa a vermelho, dourado ou castanho.
Como eu gostaria de ter uma peça com uma destas
âncoras! Nem que fosse um pires! Só que, para além da questão do preço, que não
é de somenos importância, graças ao prestígio alcançado pela porcelana de
Chelsea, a marca da âncora foi imitada por outras fábricas, dentro e fora da
Inglaterra e continuaram a produzir-se falsificações ao longo do séc. XIX. Só
bons conhecedores das características da pasta e de pormenores da marca, por
exemplo a posição em que era colocada, conseguem garantir a autenticidade das
peças.
Figurinha Chelsea c. 1755 |
Apostando assim na qualidade, sem apoios de
poderosos, esta fábrica não conseguiu manter-se para além do ano de 1769, talvez
também devido à doença de Nicholas Sprimont, um dos franceses que a fundou,
originalmente prateiro de profissão. Nessa altura foi adquirida por William
Duesbury, dono da Fábrica de Porcelana de Derby, que tinha sido fundada em
1748. Durante algum tempo a unidade de Chelsea continuou a funcionar sob o nome
Chelsea-Derby mas acabou por ser desmantelada em 1784.
Embora a fábrica de Chelsea seja a mais
antiga a produzir porcelana inglesa, outras se lhe seguiram ainda antes da de
Derby - Limehouse, Bow, Vauxhall - mas nunca atingiram a notoriedade da
primeira. Já nos anos 50 do séc. XVIII iniciou a sua actividade a fábrica de
porcelana Worcester, a única que se manteve em produção contínua até aos dias de
hoje.
Taças e pires de chá da fábrica Lowestoft
c.1780-1790, a da esquerda a imitar família rosa e a da direita a
imitar imari
Derby e Worcester, para além de Chelsea, são
nomes a reter quando se fala de porcelana inglesa, mas para além destas,
podem-se nomear mais umas três dezenas de fábricas que produziram porcelana
durante mais ou menos tempo, incluindo Wedgwood e Davenport que são sobretudo
conhecidas pela manufactura de faiança.
http://artelivrosevelharias.blogspot.com.br/2010/11/primeira-porcelana-inglesa.html
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