domingo, 13 de setembro de 2015

Pesos de papel

Os pesos de papel são verdadeiras jóias feitas pelo homem. Neles, a arte do vidreiro e do artista se associou com tanto esmero, que esmeraldas, ametistas, rubis, safiras, ágatas, musgo, ouro e prata brilham e cintilam nas flores, frutos, estrelas e miríades de outros pequenos contornos. Sua beleza é quase uma negação da utilidade desses pequenos objetos, entretanto pesados, destinados a impedir que se espalhem os papéis soltos.

Assim como acontece com os brilhantes, não existem dois pesos de papel antigo que sejam iguais. Os vidreiros venezianos fabricaram os primeiros pesos de papel no século XIX, mas nos primeiros anos da década de 1840 eles já estavam sendo fabricados pelos artesãos franceses. Por volta de 1850, trabalhadores especializados nas técnicas de fabricação de pesos de papel saíram da Itália, França e Inglaterra para os Estados Unidos. Em todos os locais em que foram feitos pesos de papel, os desenhos enquadraram-se em 2 grupos principais: os millefiori, que quer dizer mil-flores, e os que no seu interior possuíam animais e flores de grande tamanho, sendo os primeiros os mais raros e de alto valor. Naturalmente, cada país, e mesmo muitas vidrarias, criaram outras especialidades.

 BACCARAT

Durante o século XIX, os vidreiros franceses fabricaram a grande maioria dos pesos de papel, sendo que a coleção Bergstrom possui mais de 300 exemplares. Os mais variados desenhos, de grande beleza, foram aprisionados dentro do vidro, e a lapidação das superfícies planas externas acrescentou-lhes maior atrativo: a riqueza provinha de uma cobertura de vidro colorido ou leitoso, ou ocasionalmente, de um envoltório duplo, aplicado ao peso já acabado, e então facetado, a fim de permitir a visibilidade do desenho colorido, através do vidro transparente. Os pesos de papel feitos de Baccarat são caracterizados pela qualidade excepcional, mão-de-obra e beleza nunca ultrapassados. Os operários da Fábrica Baccarat conseguiram alcançar quase a perfeição na confecção de millefiori, compostos de bastonetes finos e policromados, também denominados montagens, canas ou florzinhas. Alguns pesos mil-flores apresentam, num dos lados do desenho, canas com um "B" e números correspondentes ao ano. Os sulfetos de Baccarat, bem como os retratos prateados ou os medalhões, compostos de porcelana muito fina embutida no cristal, não somente reviveram uma arte esquecida como aperfeiçoaram

CLICHY

Os pesos de papel fabricados em Clichy, entre 1840 e 1870, foram dignos dos reis da França, que ali estabeleceram sua residência nos séculos XI e XII. A cidade ficava perto de Paris, e se estava transformando num centro industrial, quando lá foi instalada uma fábrica de vidros, em 1840. Os pesos de papel da Clichy eram tão variados quanto os de Baccarat, mas há alguma coisa especial nos pesos de millefiori, sulfeto, flores ou frutos fabricados em Clichy que faz com que pareçam muito diferentes dos objetos semelhantes, executados por Baccarat. Uma das provas de origem de Clichy é a presença de uma montagem branca, semelhante a uma rosa ou a um botão de rosa; isto pode ocorrer em grande parte do desenho, ou apenas numa montagem em rosa, e o desenho é, freqüentemente, disposto contra uma cor unida ou um fundo rendado. Alguns pesos de papel de Clichy apresentavam uma assinatura mais visível, com uma montagem contendo um "C" em preto, verde ou vermelho e, mais raramente, com um "Clichy" em letras minúsculas. Poucos, entretanto, foram datados, como tantos dos pesos de Baccarat. Frutos estilizados contra um fundo rendado, flores encantadoras e sulfetos elegantes foram aprisionados dentro de vidro liso ou facetado. Envoltórios duplos, em cores maravilhosas, eram comuns. Em Clichy, como em Baccarat e St. Louis, que fizeram tantos pesos de papel, encontrava-se ocasionalmente, como motivo ornamental, um lagarto, mas isso era muito raro.

ST. LOUIS

Consta que os primeiros pesos de papel franceses foram fabricados em St. Louis, em torno de 1820, mas eram muito grosseiros, se comparados aos pesos que apresentam detalhes maravilhosos e levam assinatura, além de datados de 1845 ou de época posterior. As canas ou montagens freqüentemente apresentavam silhuetas de figura dançando ou de animais, sendo que a figura do camelo é talvez mais característica de St, Louis do que de qualquer outra vidraria. Sua flor favorita parece ter sido o áster, (lembra uma estrela), completamente aberta e em diversas cores; St. Louis também produziu encantadoras fúcsias e dálias. É tipicamente de sua requintada mão-de-obra e originalidade artística o peso com coroa oca, já que o primeiro e mais perfeito foi produzido em St. Louis. Ali, como nas outras vidrarias, foram fabricadas peças em forma de ovo, conhecidas como "refrescadoras-de-mão", para senhoras, ou então como "ovo-de-cerzir-meias". Tais peças surgiram também de opalina, em várias cores.

ESTADOS UNIDOS

 Por volta de 1850, quando começaram a ser fabricados os pesos de papel, as grandes vidrarias americanas estavam já bem instaladas, desde New England, estendendo-se ao Sul até a Virgínia e ao Oeste até a Pensilvânia. Houve muita experimentação, e os pesos imperfeitos encontrados mais tarde num velho poço na área da "Boston and Sandwich Glass Company", são um testemunho silencioso do tempo e experiência que foram necessários para se alcançar os altos padrões da fábrica. De 1850 a 1888, os operários da Sandwich, incluindo-se o vidreiro-chefe Nicholas Lutz, de St. Louis – França, fabricaram uma variedade de pesos de papel, que se destacaram pela ótima qualidade e cores excelentes. 

A "New England Glass Co." criou pesos soprados livremente, ou moldados com frutos, mas também fabricou uma grande variedade de outros tipos, desde os millefiori até os de cerâmicas, retratos de sulfetos e tartarugas de vidro verde.

A técnica de millefiori foi criada em Veneza, assim como o trabalho rendado em plano leitoso conhecido como "latticinio", entre outras técnicas. A Boêmia contribuiu com lapidações e águas-fortes em vidro. Na Inglaterra a Grande Exposição no Palácio de Cristal, em 1851, despertou o interesse nacional pelos pesos de papel, mas a qualidade dos vidros é mais importante que os desenhos. Entretanto, um dos maiores vidreiros ingleses, Apsley Pellat, patenteou um processo de fabricação de retratos em sulfeto e um relojoeiro, Christopher Pinchbeck descobriu uma liga que imita o ouro, a qual tem o seu nome e foi utilizada nos pesos de papel ingleses e franceses.

Hoje ainda se fazem pesos de papel em diversos países. Alguns utilizam técnicas, enquanto outros apresentam aspecto moderno. A Baccarat voltou a fabricar os sulfetos em 1952 e St. Louis continua ainda a fabricar alguns pesos. Charles Kazium nos Estados Unidos e Paul Ysart, na Escócia, fabricam pesos com técnicas tão boas como as do século passado e as peças são assinadas. 

Os pesos de papel de Tiffany, bem como seus prendedores de porta, produzidos no princípio do século XX, levam o nome Louis Comfort Tiffany ou suas iniciais.
BRASIL

No Brasil, além de algumas conhecidas fábricas de vidro, hoje extintas, não se tem notícia de fabricação de pesos de papel. No século passado um francês de nome Francisco Antônio Maria Esberard, fundou uma fábrica de vidro em São Cristovão e fabricou alguns tipos de pesos de papel, feitos de aproveitamento de aparas de vidro colorido, alguns com tentativas de flores no seu interior, outros com forma geométrica, com colorido simples, monocromo. Dessa vidraria surgiram alguns pesos com uma placa tipo "sulfure", onde podemos ler nomes de médicos, postos de loterias e estabelecimentos comerciais, enfim, pesos de propaganda, característico do princípio do século XX. Sem muito valor comercial, esses pesos brasileiros nada significam para os colecionadores estrangeiros; são apenas decorativos e lembram um pouco os pesos americanos da "Boston and Sandwich Glass Company".

http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/29pesop.htm

Fotos pesquisa da internet

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