segunda-feira, 11 de maio de 2015

Para quem ama chá, para saber mais - Parte 1

Aos amantes do chá, pesquisando na internet achei um artigo, muito bem escrito, que vou postar em capítulos, por ser um pouco extenso. No final, tem o link, desse site que fala sobre a cultura japonesa, que é excelente.

Chá

 O chá é a bebida mais consumida no mundo e faz parte dos hábitos diários de vários povos. No Japão, o chá integrou-se de tal forma aos costumes e à vida diária que tornou-se sinônimo daquilo que no aroma e paladar sintetiza a essência local. Cristiane A. Sato, colaboradora do Cultura Japonesa e inveterada apreciadora de chás, explica neste artigo o que é o chá japonês, e como ele faz parte não apenas de hábitos cotidianos, mas também o grau de simbologia e significado que ele tem no comportamento social japonês.

O que é e de onde vem o chá?

CamellieSinensis
As folhas e a flor da Camellia sinensis.
Existem chás e “chás”. Um problema de nomenclatura dificulta distinguir uns dos outros (algo que será esclarecido mais adiante). No momento, o importante é reter a seguinte informação: o chá “comum” – o chá preto, que se compra nos supermercados em saquinhos individuais dentro de caixinhas de papel, ou em folhinhas secas soltas dentro de latinhas, são folhas de um arbusto originário da China, que produz flores parecidas com camélias. Por isso este arbusto tem o nome científico de Camellia sinensis, que em latim significa “camélia da China”. É basicamente dessa planta que vem a maioria dos tipos de chá propriamente ditos. A Camellia sinensis é o chá.
Há uma lenda chinesa diz que no ano de 2737 a.C. o imperador Shen Nung teria descoberto o chá de modo acidental. O imperador – um filósofo que por razões de higiene só bebia água fervida – estava descansando perto de uma árvore de chá quando algumas folhas caíram no recipiente em que ele havia posto água para ferver. Ao invés de tirar as folhas, ele as observou, viu que elas produziram uma infusão, decidiu prová-la, e achou a bebida saborosa e revitalizante. Assim, conta-se na China, é que foi “descoberto” o chá. Não há registros históricos ou provas de que tenha sido efetivamente desta forma ou de que foi o imperador Shen Nung o “descobridor” do chá, mas é fato que os chineses já produziam e bebiam chá desde a Antigüidade.
Uma das primeiras referências escritas sobre o chá data do século III a.C., quando um famoso médico chinês da época recomendou a um general que se sentia velho e deprimido que tomasse chá – o que indica que já na época conhecia-se as propriedades de aumento de concentração e vivacidade que o chá proporciona – e este general escreveu a um sobrinho pedindo que lhe arranjasse chá de boa qualidade. Registros indicam que na China antiga o chá não era propriamente cultivado em grandes plantações nem era uma bebida popular – era quase sempre preparado como tônico ou medicamento com folhas tiradas de arbustos selvagens. Nos séculos subseqüentes as propriedades do chá tornaram-se famosas e a procura pelo produto cresceu. Nos séculos IV e V d.C. já haviam grandes plantações no vale do Rio Yangtze (também chamado de Rio Amarelo) e haviam vários tipos de chá: dos refinados, que eram ofertados ao imperador como presente, aos populares. Há registros de que folhas de chá prensadas foram usadas em em 476 d.C. como moeda de troca com os turcos na fronteira ocidental da China.

O chá chega ao Japão

O registro mais antigo sobre o chá no Japão data do ano de 729. Monges budistas tinham ido à China estudar por vários anos (neste período o contato oficial entre China e Japão era freqüente e monges budistas atuavam como emissários da corte). No retorno, trouxeram chá e o presentearam ao imperador Shōmu. Atribui-se ao monge Saichō, fundador da escola Tendai, a introdução do cultivo do chá no Japão no ano de 805.

Diferentemente do que hoje se pode imaginar, o chá demorou a ser popularizado no Japão. Por volta do ano de 890, a corte imperial japonesa suspendeu as missões oficiais que enviava há dois séculos à China, e as relações entre ambos os países se deterioraram. Sendo um produto chinês, o chá parou de ser bebido na corte. Assim, durante muito tempo, o chá foi considerado um medicamento e reservado a poucos privilegiados. Apenas no século XII, por iniciativa do monge zen-budista Eisai, o chá começou a se tornar mais popular nos mosteiros entre os monges, que o tomavam porque isso os fazia permanecer acordados durante as longas sessões de zazen (meditação sentada). Outro monge budista da época, Myōe, iniciou o cultivo de arbustos de chá em Uji, região de Kyoto, para suprir os mosteiros (até hoje Uji é famosa região produtora de chá no Japão).
O advento dos shōguns da Família Ashikaga a partir de 1336 mudou o modo pelo qual os japoneses viam o chá. Em especial o oitavo shōgun Ashikaga, Yoshimasa (1435-1490), um apreciador das coisas chinesas e do zen-budismo, gostava de chá e transformou o ato de tomá-lo num tipo de cerimônia, incentivando as classes guerreiras a adotar o hábito de beber chá. O exemplo do shōgun ajudou a espalhar o hábito do chá também na corte imperial e em outras ordens monásticas budistas, criando um grande público de apreciadores de chá no Japão. Mas foi o poderoso daimyō Hideyoshi Toyotomi (1536-1598) quem transformou o antes informal rito de beber chá numa verdadeira cerimônia – o chanoyu.
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Acessórios tradicionais para a realização da Cerimônia do Chá também servem para o preparo cotidiano do matcha.
Na China antiga houve rituais relacionados ao processo de se beber chá, mas que caíram em desuso com o correr do tempo. No Japão, entretanto, o costume de chá desenvolveu-se junto com as escolas e crenças budistas locais, o que levou o ato de beber chá a evoluir para uma cerimônia complicada e única. No século XVI destacou-se o poeta Jōō Takeno (1502-1555), mestre de cerimônia do chá que inventou vários utensílios – alguns ainda hoje usados no chanoyu – e que foi professor de outro importante mestre, Sen no Rikyū (1522-1591) a quem se atribui a criação do chashitsu – a “casinha” onde se executa a performance da Cerimônia do Chá. Em função dochanoyu, uma forma específica de arte se desenvolveu no Japão, que influenciou as artes decorativas e utilitárias como a cerâmica, a laca, a arquitetura e o paisagismo de jardins.
No período Edo (1603-1867) o hábito do chá espalhou-se entre os ricos comerciantes e não demorou muito para também cair no gosto das pessoas mais simples, tornando-se desde então um hábito efetivamente popular. Nessa época o Japão passou por um longo período de isolamento, com os portos fechados a navios estrangeiros, levando o país a desenvolver uma cultura muito própria. Isso também fez com que o chá no Japão fosse cultivado, colhido e processado de um modo diferente do resto do mundo, o que deu à bebida um sabor peculiar e característico.
http://www.culturajaponesa.com.br/?page_id=534

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