segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Porcelana Vista Alegre

Fundada em 1824, a Vista Alegre Fábrica de Porcelana foi a primeira unidade industrial dedicada à produção de porcelana em Portugal. A persistência de seu fundador, José Ferreira Pinto Basto, foi determinante para o lançamento e o sucesso deste empreendimento ousado. 

Um proprietário de terras, comerciante audacioso e figura de destaque na sociedade portuguesa na época, José Ferreira Pinto Basto sabiamente adotou as idéias liberais do século 19, tendo-se tornado "o primeiro exemplo de livre iniciativa" em Portugal.

José Ferreira Pinto Basto começou com a aquisição da Fazenda Ermida , localizada perto da cidade de Ílhavo, pela Corrente Aveiro, em 1812. Em 1816, o empresário adquiriu a Capela Vista Alegre em um leilão público, bem como os jardins circundantes, onde ele viria a construir a Fábrica da Vista Alegre.

Em 1824, José Ferreira Pinto Basto apresentou um projeto ao rei João VI de "construir um grande produtor de cerâmica, porcelana, vidro e fábrica de processamento químico, para todos os seus filhos, como partes interessadas em condições de igualdade, em sua fazenda, chamada Vista-Alegre da Ermida ".
Em 1 de Julho de 1824, uma licença Régia de D. João VI concedeu autorização José Ferreira Pinto Basto para construir a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. 

Apenas cinco anos depois, Vista Alegre ganhou o título de Real Fábrica em reconhecimento do seu talento e sucesso industrial.

A fábrica começou produzindo vidro e faiança, uma vez que a composição da porcelana ainda era desconhecida pelos artesãos. Fábrica de produção de artigos de vidro de alta qualidade, particularmente peças com decorações em relevo, padrões gravados e beiras ornamentadas, bem como medalhões delicadamente esculpidos. 

À medida que crescia a qualidade da faiança produzida na VA, menos atenção era dispensada ao vidro e cristal, tendo sido interrompida a sua produção definitivamente em 1880. 
Durante os anos que se seguiram, e até ao final da Grande Guerra, o anterior período de brilho foi ofuscado ­ pelas conturbações sociais que encaminharam a empresa para grandes dificuldades. Contudo, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura, estimularam a reorganização e modernização da empresa.

Assim, à passagem do seu Centenário, a Vista Alegre iniciava uma reestruturação que visou a transformação da empresa numa sociedade por quotas, a modernização das estruturas da Fábrica e a renovação de serviços.

A fim de superar as dificuldades relacionadas com a produção de faiança, Augusto Ferreira Pinto Basto, filho do fundador, visitou a fábrica de porcelana Sèvres na França, onde estudou a composição da porcelana e adquiriu conhecimento que seria crucial para a descoberta de grandes depósitos de caulim para Norte de Ílhavo, em 1832.

A produção de porcelana regular entre 1832 e 1840 levou a melhorias significativas na qualidade de porcelana e vidro, que também beneficiou-se do progresso tecnológico. Além disso, a contratação de mestres artesãos internacionais com vasta experiência em cerâmica permitiu a formação de artesãos locais, que se tornaram altamente qualificados na produção de porcelana.

Em 1851, a Vista Alegre participou na Exposição Universal no Crystal Palace, em Londres. Em 1867, a empresa obteve reconhecimento internacional na Exposição Universal de Paris.

Em 1852, um jogo de jantar completo foi produzido para a Casa Real, após uma visita pelo rei Fernando II da Fábrica da Vista Alegre.

Maior desenvolvimento industrial foi testemunhado nos anos seguintes. Estilos tornaram-se mais simples, adquirindo tons líricos e românticos, e foram introduzidas novas técnicas de decoração mecânicas. No entanto, a virada do século marcou o início de uma recessão de negócios. A crise social e instabilidade política sentida ao longo de todo o país levou a sérias dificuldades para a empresa, que foram ainda mais agravadas pela má gestão comercial e uma falta de tendências artísticas definidas. Estas dificuldades persistiriam até o início do século 20.

A empresa entraria em um período de recuperação com a nomeação de João Ferreira Pinto Basto Theodoro como Diretor Adjunto, em 1924. O desenvolvimento industrial e empresarial de crescimento foram acompanhados por um renascimento artístico. Os estilos modernos, tais como Art Déco e Funcionalismo, revelaram a capacidade da empresa para se adaptar às mudanças sociais e estéticas que caracterizaram o início do século 20.

Este período de sucesso seriam consolidado nas décadas seguintes. A reestruturação industrial permitiu à empresa aumentar a rentabilidade e sua capacidade de atender às crescentes desafios da globalização do mercado de demanda. Por outro lado, as atividades industriais especializados da empresa, com base no know-how dos seus artesãos e nas suas tradições centenárias, permitiu à fábrica manter a sua posição de liderança entre os fabricantes europeus de maior prestígio.



Entre 1947 e 1968, o aumento das exportações, instalação de novos equipamentos, maior foco na formação de técnicos e cooperação com seus pares europeus especializados conduziu a um desenvolvimento técnico acentuado, o que permitiu à empresa expandir seus negócios para novos mercados.

O Museu da Vista Alegre, inaugurado em 1964, possui uma coleção de peças que testemunham a longa e rica história da empresa.

Em 1985, a empresa abriu o Vista Alegre Art and Development Centre (Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa - CADE), a fim de incentivar a criação de novas peças e decorações, bem como promover a pintura e a escultura de treinamento.

O Club de Colecionadores também foi criado em 1985. Este clube, que foi limitado a 2.500 membros, reflete a importância da Vista Alegre no mercado de arte.

Em 1997 concretiza-se a fusão com o grupo cerâmico Cerexport que originou quase a duplicação do volume de negócios da VAA, nomeadamente nos mercados internacionais. Em Maio de 2001 dá-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de Tableware e sexto maior do mundo nesse setor: o Grupo Vista Alegre Atlantis.

Os jogos Vista Alegre são usados oficialmente pelo Presidente da República Portuguesa, mas também na Casa Branca e por muitas cabeças coroadas e políticos de todo mundo, como a Rainha Elizabeth II de Inglaterra, o Rei Juan Carlos de Espanha, a Rainha Beatriz da Holanda, e o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, que são possuidores de belos serviços Vista Alegre.

Mas não é só nas mesas das celebridades que se encontram peças Vista Alegre: também os museus de todo o mundo guardam valiosos exemplares nos seus acervos. As peças Vista Alegre brilham nas vitrinas de museus tão famosos como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. É sem dúvida uma instituição, em Portugal e no mundo, sinônimo de excelência e inigualável qualidade.

No final de 1980, as peças da Vista Alegre foram exibidas em exposições internacionais relevantes, em locais como o Metropolitan Museum of Art de Nova York e do Palácio Real de Milão, que definitivamente contribuíram para espalhar a reputação da marca em todo o mundo.

Hoje em dia, Vista Alegre é mais do que uma mera unidade industrial. Também faz parte do patrimônio português, ostentando edifícios de interesse arquitetônico inegável, e um repositório de memórias sociais e artísticas essenciais para a construção de uma identidade portuguesa.






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